Quarto D’água

2016
Fortaleza


Quarto D’água, em parceria com Flávia Rodrigues, foi minha primeira exposição de longa duração, resultante de seis meses de interação em ateliê. Tendo o processo lastro no mar e na relação do cearense com a paisagem litorânea, a oportunidade de expor ocorreu a partir do convite da curadora Bárbara Cariry e do produtor Diego Pontes. A Exposição ficou em cartaz de 14 de julho a 28 de agosto na Galeria Mário Baratta, no Estoril.
Exploramos - em diálogo mas também individualmente - nossas pesquisas, técnicas de domínio e interesses para além da zona de conforto, de modo que produzimos ao final do período de elaboração, cada um, obras que possuíam um fio condutor comum.
Para o Quarto, executei obras em óleo, acrílica e nanquim, e propus instalações de objetos-escultura.







Texto curatorial:

O mar que nos habita

O Ceará tem o corpo de sertão e a alma de mar. É feito de ouro (a cor do sertão) e esmeralda (a cor do mar). Se no sertão plasmou-se nosso processo civilizatório, a partir da mistura de tantas culturas, foi o mar que nos trouxe civilizações e nos levou a outras civilizações, abrindo-se como um território mítico, espaço do sem-fim – território do sonho.

Por essa dimensão civilizatória e simbólica do mar na cultura cearense, o escolhemos como tema para a exposição Quarto D’água. Afinal, se uma parte de nós é sertão, a outra é água e sal. Partindo dessa percepção, Thadeu Dias e Flávia Rodrigues deram asas aos seus imaginários e lançaram olhares sobre o mar e tudo aquilo que ele traz ou leva, no movimento contínuo das águas. No nosso pequeno e frágil planeta azul, tudo veio do mar e ao mar retorna. O mar é a origem de todas as coisas vivas, é a grande mãe.

A partir desse desafio, Quarto D’água se tornou antes de tudo a percepção da profundidade, do mistério da vida, mas também símbolo da impermanência das ondas, que nunca se repetem em seus desenhos, revelando a delicadeza e a força daqueles que compreendem essa grandeza de água e sal.   

Esses imaginários largos, nessa exposição, são traduzidos em peças de bordados, desenhos, esculturas e pinturas que se deslocam para o espaço expositivo por meio de interpretações pessoais e imagéticas de Flávia Rodrigues e Thadeu Dias. Durante seis meses, esses dois artistas se dedicaram a pesquisar, experimentar e por fim produzir uma série de obras inéditas. Mergulharam assim em uma poética marítima e acabaram por trazer desse mergulho as suas visões dos mistérios.

Para sentir a fruição dessas peças, em formas e suportes múltiplos, é necessário que o espectador se desnude de pré-conceitos e perceba os generosos espaços das ressignificações. São camadas que se apresentam e se misturam, submergem e emergem, espraiam-se e refluem, em movimentos interpretativos que só se revelam aos olhares mais atentos e mais livres. O que aqui conta é o desejo de apropriar-se e, por vezes, ressignificar o olhar do outro. A proposta é viver a experiência e sentir a partir dessa vivência, no tempo e no espaço dado: Quarto D’água.

Bárbara Cariry
Curadoria














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