Pai-Chão Mãe-Nhã

2017
Séries Sobre o Sutil
Expressão Gráfica e Editora
ISBN 978-85-420-0983-5


Memória é decanto de tempo, como cortar um fio que é coisa inteira, que segue e atravessa feito seta infinita a vivência e os vivos. Eis um fruto desse recorte. Muito além da poeira dos dias, o âmago é suculento e suja as mãos e o rosto, numa ânsia de perenidade e continuidade. Perpétua é a brincadeira na beira do horizonte, em um encanto de ir avante. A memória, assim como o amor, se constrói efetivamente no coletivo.
Parto desta pequena introdução para falar de Pai-Chão Mãe-Nhã, parte do projeto Séries Sobre o Sutil, organizado pelo Descoletivo, formado por Marília Oliveira e Régis Amora. Apoiado pelo Programa Produção e Publicação em Artes 2016 de Fortaleza - Instituto Bela Vista/Secultfor, o projeto, através da linguagem fotográfica e do formato de publicação impressa, teve como objetivo falar da cidade de Fortaleza e de suas sutilezas, através de olhares diversos. Participaram também, com suas respectivas propostas, Alice Cadena, Beto Skeff, Linga Acácio, Jean dos Anjos, Marília e Régis.
A publicação teve capa e projeto gráfico de Darwin Marinho e produção de Sabrina Ximenes, contando também com prefácio generoso por Glória Diógenes. Sua distribuição foi gratuita, na rede municipal de equipamentos públicos e instituições de Fortaleza - CE.





Trabalhei o tema através da memória, tendo o caminho do autobiográfico como ponto de partida, a partir de extenso material catalogado em fotografias analógicas familiares. Pensando que a fundação da minha relação com a fotografia foi folheando álbuns antigos de família, busquei referência neles, abordando a cidade através de memórias orais repetidas em casa e nos encontros, reescrevendo as narrativas - tanto amorosas quanto dolorosas - a partir de escritas poéticas, da seleção de imagens específicas e da digitalização de pinturas em giz pastel seco.
Deste modo, tive como objetivo transformar o mais íntimo e mais secreto em uma narrativa que pudesse encontrar reverberação e apropriação livre, em um território de encontros.



As escritas poéticas foram elaboradas por mim e posteriormente manuscritas por outras mãos, de amigas mulheres, almejando reforçar o exercício de transmissão e apropriação das falas e estórias.